Trabalhadores contratados por empresa de miss comiam frutas da mata e bebiam água de rio em MT
27/09/2025
(Foto: Reprodução) Miss Mato Grosso 2024, Taiany França Zimpel.
Reprodução
Os trabalhadores contratados pela empresa da miss Mato Grosso 2024, Taiany França Zimpel, relataram a fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) que comiam frutas da mata e bebiam água de rio para se alimentarem enquanto viviam sob condições análogas à escravidão na Fazenda Eliane Raquel e Quinhão, em Nova Maringá, a 392 km de Cuiabá.
Ao menos 20 trabalhadores foram resgatados na segunda-feira (15) em uma operação da Polícia Federal e da auditoria fiscal do ministério do Trabalho. No grupo, estava uma mulher e uma criança.
✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 MT no WhatsApp
Na operação, um trabalhador contou que o grupo se alimentava de açaí, mandioca e patuá, e às vezes pescava para ter alguma proteína.
Nos últimos 25 dias, enquanto estavam na fazenda, eles disseram que não receberam nenhum pagamento.
Em om vídeo, um trabalhador resgatado mostra que o grupo bebia água do rio e, também, usava como banheiro um outro ponto da área.
"Às vezes o rio quase secava, porque faltava chuva. Se tivesse vindo ontem, vocês iam ver como estava. Mas choveu", relatou. (veja mais no vídeo abaixo)
A miss disse, em nota nas redes sociais, que a empresa fez um contrato de prestação de serviços com a fazenda, e que a mão de obra era terceirizada (veja nota completa no fim da reportagem).
Trabalhadores resgatados mostram condições análogas à escravidão em fazenda isoladas em MT
No Instagram, Taiany se descreve como empresária e modelo internacional, além dos títulos de Miss Grand Mato Grosso 2024 e Miss Mato Grosso Internacional 2024.
O g1 tenta localizar a defesa dos proprietários da fazenda.
Os responsáveis pela fazenda devem pagar R$ 1 milhão a título de compensação por danos morais coletivos, e o valor vai ser destinado para o Projeto Ação Integrada – Mato Grosso (PAI-MT).
O acordo prevê ainda o pagamento de todas as verbas salariais e rescisórias devidas, que somam R$ 418 mil.
Os responsáveis também devem indenizar cada uma das vítimas em R$ 10 mil. O compromisso foi firmado por meio de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o MPT.
Operação
Segundo o MTE, o local onde os trabalhadores estavam era de difícil acesso, isolado e sem qualquer meio de transporte público ou particular disponível.
A cidade mais próxima ficava a 120 km de distância, o que tornava ainda mais complicada qualquer tentativa de deslocamento.
Quatro trabalhadores estavam confinados em um contêiner sem ar-condicionado, sem camas, roupas de cama ou armários. O ambiente era de extrema desordem e total falta de higiene, segundo a auditoria fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego.
⚠️ COMO DENUNCIAR? - Existe um canal específico para denúncias de trabalho análogo à escravidão: é o Sistema Ipê, disponível pela internet. O denunciante não precisa se identificar, basta acessar o sistema e inserir o maior número possível de informações.
Grupo em trabalho análogo à escravidão é resgatado de fazenda isolada em MT
Nota emitida pela empresa:
A empresa T. F. ZIMPEL, trata-se de empresa prestadora de serviços em atividades de apoio à pecuária e a agricultura, atuando como intermediadora.
A empresa T. F. ZIMPEL, assim como a Família Zimpel, não possuem propriedade rural.
Assim, a empresa T. F. ZIMPEL esclarece que firmou contrato de prestação de serviços com uma propriedade rural e terceirizou a mão de obra para execução dos trabalhos, portanto, a empresa T. F. ZIMPEL não representa a fazenda e também não realizou a contratação da mão de obra direta.
A empresa T. F. ZIMPEL, mesmo não sendo a contratante dos trabalhadores, vem colaborando integralmente com as autoridades nas apurações relacionadas ao caso dos 20 funcionários resgatados.
Desde o inicio da fiscalização, quando tomou conhecimento sobre os fatos, a empresa garantiu o acesso irrestrito às instalações da operação e documentos, além de atuar no acolhimento e realocação dos colaboradores afetados.
A empresa T. F. ZIMPEL reforça seu comprometimento com práticas trabalhistas éticas, respeito à legislação e aos direitos dos trabalhadores.
A empresa firmou, com o Ministério Público do Trabalho, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com caráter emergencial e reparatório, sem confissão de culpa, pois mesmo sem ser responsável direta pelos funcionários, preferiu garantir o suporte imediato dos colaboradores, resguardando-se no direito de regresso ao contratante.
A empresa T. F. ZIMPEL repudia veementemente qualquer prática análoga à escravidão ou tráfico de pessoas e seguirá colaborando com as investigações, confiando que a verdade será esclarecida com responsabilidade e respeito ao devido processo legal.
A empresa T. F. ZIMPEL informa que serão tomadas todas as medidas legais cabíveis, tanto cíveis quanto criminais, quanto a publicações que expõe os fatos de forma distorcida à realidade, em especial àquelas que liguem os fatos à pessoa da Miss Mato Grosso.