Armazenamento e aumento de custo: produtores rurais enfrentam a colheita de soja mais lenta dos últimos 4 anos pelas chuvas em MT

  • 08/03/2025
(Foto: Reprodução)
A desestabilização climática tem dificultado o trabalho dos produtores rurais, desde a semeadura até os armazéns. O g1 conversou com profissionais da área para entender quais são os problemas no campo, quais medidas os produtores podem adotar para melhorar a situação no futuro e como serão as condições meteorológicas nos próximos anos. 🌱 Armazenamento e aumento de custos são as principais dificuldades enfrentadas pelos produtores rurais na colheita de soja da safra 2024/2025. Se a seca causou o atraso do plantio, agora as chuvas intensas impactam na colheita, causando umidade nos grãos e aumento de fungos. Mesmo estabilizada atualmente, essa foi a colheita de soja mais lenta dos últimos quatro anos, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) (veja o gráfico acima). Veja abaixo outros problemas presentes no cotidiano dos produtores rurais: 🚜 dificuldades para colocar máquina em campo; 🌿 mofo branco; 🌾 grãos danificados; 🌱 perda de plantio; 🚛 condições das estradas. Chuvas fizeram com que a água do rio às margens da fazenda invadisse a plantação em Planalto da Serra Arquivo pessoal A lavoura do produtor de grãos Jorge Diego Giacomelli, de 36 anos, ficou pronta para ser colhida em meados de fevereiro, mas nas duas fazendas, em Jaciara e Planalto da Serra, a 148 km e 254 km de Cuiabá, respectivamente, o produtor enfrentou a difícil realidade de ficar de três a quatro dias sem conseguir colocar as máquinas no campo devido às chuvas e o volume de água na plantação. A umidade excessiva e os períodos nublados afetam não apenas o peso dos grãos, mas também comprometem a qualidade e a produtividade da colheita. Mesmo com colheitadeiras próprias, Jorge optou por contratar máquinas de terceiros com o objetivo de acelerar a colheita sempre que o clima favorecer, mesmo que o grão esteja úmido. "A estratégia tem sido colher o grão, ainda que estiver úmido. Quando possível, colhemos noite adentro, pra tentar tirar essa soja do campo dentro da janela de colheita", explicou. O pouco de soja que conseguiu colher nos dias sem chuva, chegou aos armazéns com alta umidade, o que acarretou prejuízos. Para enviar o grão de forma rápida à Rondonópolis, que fica a 72 km da fazenda de Jaciara, ele precisou contratar mais caminhões, sendo necessário pagar fretes mais caros devido ao aumento do preço do diesel e à alta demanda por veículos. O diretor administrativo da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Diego Bertuol, pontuou que os produtores enfrentam dificuldade para chegar aos armazéns, já que estradas ficam intrafegáveis com grandes filas de caminhões e cargas não sendo recebidas por causa do alto teor de umidade. "É preocupante, ainda mais sabendo que o produtor paga mais de R$ 3 bilhões entre soja e milho de Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab), que seria para o propósito dessas estradas. Ainda vemos a precariedade e necessidade de trazer mais desses recursos para regiões onde estão começando esses trabalhos", ressaltou. Ao g1, o Governo do Estado informou que 1,4 mil km estão sendo asfaltados e 133 km deverão ter o asfalto recuperado. Além disso, 74 pontes de concreto estão em obras para facilitar o deslocamento dos grãos aos armazéns. Colheita na fazenda do produtor de grãos Jorge Diego Giacomelli, em Jaciara (MT) Arquivo pessoal Para o produtor Thiago Minuzzi, de Campo Verde, a 139 km de Cuiabá, a colheita na propriedade começou com atraso de mais de 20 dias, e os impactos foram visíveis. A umidade aumentou a incidência de doenças fúngicas na lavoura, o que fez aumentar o custo com fungicidas. O mofo branco é uma das doenças que tem gerado grandes preocupações, pois, se não controlada, pode dizimar a plantação rapidamente. Para tentar combater o problema, o produtor tem aplicado cerca de quatro sacos de fungicida por hectare, mas o excesso de umidade tem dificultado a eficácia dos tratamentos, tornando os fungicidas caros e pouco eficientes. Além disso, a chuva constante tem impedido a colheita. Thiago perdeu uma grande quantidade de soja, que acabou apodrecendo nas plantações. Ele também é produtor de sementes e o desempenho da produtividade foi afetada de forma severa pela umidade. "A colheita do primeiro talhão [área de terra cultivada] da nossa produção de sementes foi perdida. Foram bem poucas sementes e não conseguimos colher com alta qualidade", disse. 🏭 Chegou no armazém, e agora? Os grãos que chegam aos armazéns com avarias estão sujeitos a grandes descontos no mercado, e os produtores que optam por armazenar a soja em fazendas enfrentam a dificuldade de manter esses grãos por longos períodos, o que pode acarretar em novas perdas financeiras. O diretor administrativo da Aprosoja afirma que os armazéns que o estado possui hoje já não conseguem suportar a demanda. A capacidade estática de armazenagem no estado em 2024, estimada pela Conab, é de 50,82 milhões de toneladas de grãos. Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), esse número corresponde a um déficit de 35,40 milhões de toneladas, se comparado com a produção de soja e milho na safra 2023/2024, que juntas totalizaram 86,22 milhões de toneladas. Segundo o superintendente do Imea, Cleiton Gauer, não há um número oficial de armazéns em Mato Grosso, mas o ideal seria que houvessem espaços capazes de armazenar, no mínimo, a produção anual de uma região para que o produtor se sinta seguro. "Em caso de dificuldade logística ou um problema comercial que impacte drasticamente o mercado local, mais armazéns dariam segurança e o produtor teria onde armazenar essa produção. Temos cerca de metade da capacidade, o que é ruim, considerando que o produtor precisa processar tudo o que é produzido e escoar a produção para dar vazão à segunda safra", analisou. 🔎 De acordo com dados divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil exportou 98,81 milhões de toneladas de soja em 2024, uma redução de 3% em comparação a 2023. Mato Grosso é atualmente o maior produtor nacional de soja e foi responsável por 25,03% das exportações brasileiras em 2024, totalizando 24,74 milhões de toneladas. O número representa um recuo de 12,7% em relação a 2023, reflexo da redução de 13,84% na produção estadual na safra de 2023/2024. Agora a colheita de soja começou a se estabilizar e segue para reta final, mas os produtores já se preocupam com o próximo passo: o plantio do milho. O cereal deve ser plantado fora da janela de plantio e, consequentemente, deve ter a produtividade afetada. ☔ O que dizem os meteorologistas Segundo o climatologista e doutor em meteorologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Rodrigo Marques, o atraso das chuvas em época de plantio da soja ocorre desde 2019 e já era esperado pelos especialistas. No entanto, fenômenos como o El Niño contribuíram para essa desestabilização climática. “Desde 2019 temos tido um atraso nas chuvas, e em 2024 já era esperado que as chuvas não começassem em setembro. Em 2024, ainda tivemos impacto do El Niño que diminuiu as chuvas na Amazônia e aumentou o volume de chuva no sul do Brasil”, explicou. LEIA MAIS: Flagrante raro: anta albina é vista em área de plantação de soja em MT; veja vídeo Abelhas e soja: conheça relação que pode aumentar produção nas lavouras 💧 O uso da água a favor do produtor Plataforma AproClima, desenvolvida pela Aprosoja, gerencia riscos e oferece suporte aos produtores por meio de informações sobre o clima e planejamento agrícola André Rodrigues Para o Engenheiro Agrônomo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), José Renato Bouças, o cenário para as lavouras será de inconstância, mas há medidas que os produtores podem adotar para melhorar a situação no futuro. Entre as ações recomendadas estão o armazenamento de água para ser utilizada no início da colheita, o uso de mecanismos para acelerar a infiltração da água no solo e a preferência por grãos com maior resistência a condições climáticas adversas. "É indicado que os produtores invistam muito em materiais mais tolerantes às altas temperaturas, em manejo do solo, melhorar o armazenamento de água, mas principalmente aproveitar melhor toda e qualquer água que caia no solo", recomenda. O produtor também pode acompanhar as mudanças climáticas para se planejar melhor nas próximas plantações e colheitas. Desde 2019, a plataforma AproClima, desenvolvida pela Aprosoja, gerencia riscos e oferece suporte aos produtores por meio de informações sobre o clima e planejamento agrícola. A iniciativa considera as condições meteorológicas e as estações climáticas instaladas estrategicamente nas propriedades rurais. Atualmente, Mato Grosso conta com 72 estações meteorológicas que auxiliam na coleta de dados. Os produtores têm acesso aos dados das suas próprias estações e também das demais, por meio das informações disponíveis na plataforma. ⌛Futuro no campo A tendência, ainda segundo o climatologista, é que Mato Grosso tenha menos chuvas anuais. No entanto, devido ao aumento do calor, as pancadas de chuva serão mais intensas e as secas mais severas, o que impacta os períodos de plantio e colheita nos próximos anos. “Não quer dizer que vai aumentar o volume de chuva anual, ou que vai chover mais, mas a tendência é que tenhamos menos chuvas anuais em Mato Grosso. Devido ao calor, as pancadas de chuvas com ventos fortes, volume alto de chuva em pouco tempo de duração e secas mais severas se tornam mais frequentes. E isso terá um impacto muito grande nos períodos de plantio e colheita”, conclui.

FONTE: https://g1.globo.com/mt/mato-grosso/noticia/2025/03/08/armazenamento-e-aumento-de-custo-produtores-rurais-enfrentam-a-colheita-de-soja-mais-lenta-dos-ultimos-4-anos-pelas-chuvas-em-mt.ghtml


#Compartilhe

Aplicativos


Locutor no Ar

Peça Sua Música

No momento todos os nossos apresentadores estão offline, tente novamente mais tarde, obrigado!

Top 5

top1
1. Raridade

Anderson Freire

top2
2. Advogado Fiel

Bruna Karla

top3
3. Casa do pai

Aline Barros

top4
4. Acalma o meu coração

Anderson Freire

top5
5. Ressuscita-me

Aline Barros

Anunciantes